Suplemento Vol.76 (5) Set./Out. 2010

TESE

AO-64

TÍTULO: RESSONÂNCIA MAGNÉTICA FUNCIONAL PARA AVALIAÇÃO DO INCÔMODO DO ZUMBIDO EM PACIENTES COM AUDIOMETRIA NORMAL (TESE).

AUTOR(ES): SILVIA CRISTINA BATEZATI ALVES , TANIT GANZ SANCHEZ, MARIANA PENTEADO NUCCI-DA-SILVA, MARIA ELISABETE BOVINO PEDALINI, VIVIAN DE SOUZA SACOMANO, ANTÔNIO CESARIO MONTEIRO CRUZ JUNIOR., EDSON AMARO JUNIOR.

INSTITUIÇÃO: DISCIPLINA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E DEPARTAMENTO DE RADIOLOGIA DA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSI

Introdução: Apesar da freqüente associação clínica entre zumbido e alterações emocionais, a base neuropsicológica da percepção emocional não foi aplicada ao estudo do zumbido. Alguns pesquisadores descrevem uma via neural ventral responsável pela identificação de um estímulo emocional e produção do estado afetivo, e uma rede neural dorsal capaz de controlar a resposta emocional a este estímulo. Respostas emocionais exacerbadas a estímulos inócuos resultariam de falha no funcionamento destas vias. A ressonância magnética functional (RMf) é um método objetivo capaz de identificar a rede neural relacionada à percepção de estímulos emocionais. Sugerimos que, em pacientes com zumbido, anormalidades nesse sistema estariam relacionadas ao incômodo exacerbado ao sintoma.

Objetivos: 1) Analisar se os pacientes normouvintes com zumbido recrutam a mesma rede neural para a percepção emocional dos sons que os indivíduos sem zumbido; 2) em pacientes com zumbido, avaliar as áreas corticais realçadas à estimulação binaural com sons desagradáveis, neutros e agradáveis relacionadas ao incômodo do sintoma.

Metodologia: Treze pacientes com zumbido subjetivo crônico não-pulsátil (grupo zumbido, GZ) e 14 voluntários sem zumbido (grupo controle, GC), pareados por sexo e idade, foram submetidos à RMf (1.5 T). Os critérios de inclusão foram: indivíduos destros, audiometria normal, inventário de depressão de Beck < 20 pontos. O grau de incômodo ao zumbido foi classificado através do questionário de severidade THI (“Tinnitus Handicap Inventory”). O paradigma incluiu sons do catálogo IADS (“International Affective Digitized Sounds”), validados para valência emocional e intensidade de estímulo. Imagens funcionais foram geradas para 1) comparação entre grupos, e 2) análise de correlação das imagens funcionais do GZ com o questionário THI.

Resultados: 1) Comparação entre grupos: a) na análise dos sons desagradável, neutro e agradável, o GZ apresentou maior atividade funcional em áreas cerebrais da rede neural ventral, como ínsula e tálamo, havendo também significante ativação de áreas auditivas (giro temporal médio e superior); b) o lobo anterior do cerebelo esquerdo (cúlmen) demonstrou atividade neural reduzida à avaliação dos sons neutros no GZ; c) à percepção dos sons desagradáveis, o lobo posterior do cerebelo direito (declive) apresentou-se significantemente mais ativado no GZ. 2) Análise de correlação do THI: em pacientes do GZ com incômodo leve a moderado, ambas as redes neurais demostraram padrões funcionais de atividade neural, porém com predomínio da via ventral (ínsula e tálamo) quando a nota THI foi mais alta.

Conclusão: Pacientes com zumbido demostraram padrões distintos de ativação cerebral ao processamento emocional dos sons em relação aos pacientes sem zumbido. A atividade cognitiva cerebelar nos indivíduos com zumbido pode estar relacionada ao excessivo processamento de estímulos sonoros desagradáveis (incluindo o próprio sintoma quando este apresenta uma conatação emocional negativa) e/ou à inadequada percepção e avalição de estímulos de conotação emocional neutra. O aumento do incômodo ao zumbido pode ser gerado pelo desequilíbrio no processamento emocional dos sons, seja pela excessiva identificação do estímulo auditivo como desagradável e produção do um estado afetivo descompensado, seja pela falta de regulação e origem de uma resposta emocional exacerbada ao sintoma.

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